1. |
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Faz tempo, irmã
Eu já não sei mais
Do que são feitos todos esses móbiles
Ditos vivos
O que seremos nós?
Imersas ilhas?
Máquinas de si mesmas?
Flutuações nos sonhos de outrem?
Por que padrões emergem?
Por que estar aqui?
Como grupelhos erram pelo espaço-tempo?
E faz tempo
Parei de me ocupar
Do que sustenta o existir e o deslocar
Faz um tempo
Parei de respirar
Com os planetas e as estrelas próximas
Por que frações imperam?
Por que o lagarto é rei?
E o canto das cigarras através do espaço-tempo
Fantasma
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2. |
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Meu coração não vê além do que os olhos não sentem
Como um velho fliperama sem fichas pra funcionar sozinho
Sem um par de mãos
Mas há de haver um mundo em que o jogo seja aberto e livre
Se liga!
Todas as lentes sobrevoam a ilha
E as silvícolas afundam mais um cruzador
Setas em chamas
Outro mundo há em gestação dentro deste que ora gira
E você aqui, de passagem, numa nave espacial
Pra fora do sistema
Até Próxima Centauri
Onde o nosso sol brilha em Casiopeia
Desliga
Essa bitolação de se queixar da vida
Nossas terminações desaguam na imensidão criativa
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3. |
Vênus
02:50
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Vênus embaçada por nuvens
A tensão das gotas por cair
Na estrada
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4. |
Corisco (parte 1)
03:20
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Os raios detrás da montanha
Lampejam pra te avisar
Que eventualmente o mundo vai se acabar
Se acaso, no breu, sentires
O cheiro do opilião
Estanca o tempo, deixa o mistério entrar
Mas o século ainda persiste
E a história há de se contar
Num desembolar de escolhas
Que ao povo poder trará
Mas hoje eu me sinto tanto mais vivo quanto mais me lembrar
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5. |
Tela azul
02:57
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Eu rastreio a tua América
Pra te destrilhar
E encho tuas bolsas
Pra te apaziguar
Eu rateio a tua África
Pra te desalmar
E atiço teu sarcófago
Pra te incendiar
Te incendiar
Eu sou a tela azul da morte
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6. |
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Ouvindo as máquinas a engasgar
Não é meu dia
Se o que se diz é o que há
Então por que me deixas
No colapso do amanhã
Hoje?
Olhando os vegetais a depurar
Que grande fria
Cara de pano vê o sol chegar
Mas não esquenta mais
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7. |
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Pergunta ao mar o que mais há de passar
E escuta a estática da estação fática
O oráculo ativa o fármaco interior
No rumo da clareira, tromba a ribanceira além
Desliza em sete quedas, conta as pedras, cai sem medo
Num poço de ardor e de sonhos teus
Superlua! Água o meu querer!
Na boca da baleia, espera a maré cheia, amor
Prenda da lua nova não tem prova, tem segredo
Na tábua de forças ocultas
Revolvo no espaço vazio
Num túnel ausente de sonhos meus
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8. |
2054
03:04
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Lá onde os olhos alcançam, eu sinto você
Antenas são como totens de um mundo a perder
Lá onde a pele descansa e o corpo quer crer
Sob um céu de satélites morto eu penso em você
E o futuro é só a lembrança de um dia nascer
Num gueto de práticas fósseis o sol brilha em você
Lá onde a mente se lança, o tempo a perder
Sob um céu de satélites mortos eu quero você
Eu sou um portal de ativação galática
Entra por mim
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9. |
Grande nó (feat. Betina)
09:00
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Algo há de errado comigo
Tento decifrar os signos luminosos na escuridão do asfalto
Mas não consigo
Tento ler o livro entreaberto do universo e seus caracteres, números, sabores e canções
Mas não dá
E eu não passo mais num detector de metais
Sem apito
E não há mais lugar pra gente conspirar
Sem ruído
E eu não acordo mais de sonhos seriais
Sem um grito
E eu não vou mais parar pra ver o céu passar
Infinito
Tudo há de errado no mundo
Tento desatar o grande nó e flutuar alheio por sobre as redes, teias e colmeias um zero um zero zero um um um zero um...
Mas afundo
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10. |
Corisco (parte 2)
04:15
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Que abram-se as porteiras e portais
Às entidades não tradicionais
A Cigarra Fantasma
O Espectro do Rio
O Grão Vagalume
A Lua Lunar
E acendam-se os fogos no sopé
Do além-Corisco, que é o que é
Que estronda na pedra
E abre um signo
Liberta a palavra
E vibra no chão
E ecoa no vale
E o vale ecoa
E vela a noite
E sobe uma estrela
Que brilha sobre todos os mortais
O espectro que ronda
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Bonifrate Paraty, Brazil
Bonifrate is a modern bard from Paraty, Brazil, who makes records at home.
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